terça-feira, 27 de julho de 2010

água viva

"E eis que depois de uma tarde de "quem sou eu" e de acordar à uma hora da madrugada ainda em desespero - eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei. Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. e você é você. É vasto, vai durar.

O que te escrevo é um "isto". Não vai parar: continua.
Olha para mim e me ama. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.
O que te escrevo continua e estou enfeitiçada."

Das Vantagens de ser Bobo


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.

O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer.
Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo.
[...]
É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.


sexta-feira, 23 de julho de 2010

O tempo não cura tudo.

O tempo não cura tudo.

Aliás, o tempo não cura nada,

O tempo apenas tira o incurável do centro das atenções.

O ser humano é horrível.

As pessoas vão e vem. Às vezes ficam por anos e anos e anos e depois se vão. Algumas amizades parecem que vão durar para sempre, alguns laços parecem ser inquebráveis, mas em algum momento, uma pessoa se aproveita de tudo que sabe da outra. O ser humano é horrível, assim como a sociedade que criou dentro de suas crenças e de seus desejos. Ter um pé atrás nunca é demais, pois nunca sabemos quando vamos precisar sair correndo, abandonando uma parte de nós que precisou morrer. Quer dizer, na verdade se suicidou. Os seres humanos são todos sozinhos e se ligam aos outros por interesse, e para mascarar a verdade que certamente machuca demais. É, a verdade machuca de mais, e machuca mais ainda quando amamos uma pessoa, e depois vemos que tudo que construimos acaba ali, por um gesto impenssado. E depois disso, onde foram parar os sonhos? e tudo que planejamos? O ser humano é horrível.

(O Curioso caso de Benjamin Button.)

.
"Para as coisas importantes, nunca é tarde demais ou no meu caso, muito cedo, para sermos quem queremos.

Não há um limite de tempo, comece quando quiser. Você pode mudar ou não. Não há regras.
Podemos fazer o melhor ou o pior. Espero que você faça o melhor. Espero que veja as coisas que a assustam.
Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes. Espero que conheça pessoas com diferentes opiniões.
Espero que viva uma vida da qual se orgulhe.
Se você achar que não tem, espero que tenha a força para começar novamente."

Eu te amo ?

Você diz que ama...ótimo! E logo demonstra,certo?
A questão não é só dizer e pronto.
Há uma discrepância entre o amar dito e sentir-se amado, e essa demonstração requer mais do que beijos, abraços e palavras,vai além de scraps e depoimentos.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você quando for preciso.
É sentir-se seguro pelo que é, sem precisar inventar personagens pra satisfazer a relação de um só.
Sente-se amado, quem não precisa gritar, apenas fala, não concorda, mas adora escutar.
Definitivamente, eu te amo nunca disse tudo.

* Incontáveis Significados

Cansei.

Quando eu era criança, me ensinaram que a gente deve fazer o bem sem esperar nada em troca. Me ensinaram que as pessoas não vão ser boas comigo porque eu sou boa com elas. Me ensinaram a nunca esperar nada em troca. Até no catecismo (é, eu fiz isso!) me contaram que Jesus ajudou não sei quantas pessoas e só uma voltou pra agradecer (não sei contar história direito, mas é mais ou menos isso). Eu já deveria ter aprendido nessa hora.

Mas não. A gente quebra a cara, apanha da vida, se ferra e não aprende. Você ajuda uma pessoa que depois quer puxar seu tapete, você respeita alguém que mal conhece essa palavra, você presenteia pessoas que fazem pouco caso de você no dia do seu aniversário, você paga o jantar da sua amiga que depois quer rachar o estacionamento de três reais com você.
Seria muita hipocrisia minha dizer que gosto de fazer o bem pras pessoas e só tomar ferrada em troca. Mas não sou covarde o suficiente pra dizer que sou boazinha pra agradar o mundo e não me importo se as pessoas agem com descaso comigo. Me importo sim. Não tolero descaso, falta de consideração, falta de respeito. Não tolero gente sem educação porque sou educada com as pessoas. Não tolero gente que não cumpre com a própria palavra porque, a partir do momento que eu me comprometer com algo, vou cumprir com o que foi dito.
Nunca entendi minhas amigas que tomam end dos caras e insistem em ligar pra eles mesmo assim. Nunca entendi mulher que toma chifre e finge que não sabe. Na verdade, nunca entendi gente que finge de burro pra continuar pastando. Descaso, falta de consideração, falta de educação, falta de respeito, falta de hombridade, falta de coleguismo, falta de ser gente. Nunca vou entender como alguém acha isso normal.
Sempre esperei que as pessoas agissem comigo da mesma forma que ajo com elas e é por isso - e só por isso - que sou honesta. Que sou franca. Que sou amiga. Que sou fiel. Só por isso me esforço pra ser uma pessoa boa. Porque espero das pessoas o mesmo tipo de atitude. E não porque quero ser a Madre Teresa de Calcutá ou almejo algum tipo de canonização. Mas sabe de uma coisa? Bobagem. Na hora que a coisa aperta, é com um ou outro que você pode contar e só. Aí, cadê aquela sua amiga que ia na sua casa chorar no seu ombro quando terminou o namoro? Cadê aquela outra que, quando a mãe dela ficou doente, você se ofereceu pra ir com ela de madrugada pro hospital? Cadê aquela amiga que você buscou e levou em casa durante os quatro anos de faculdade? Cadê aquelas que freqüentavam todas as festas na sua casa? Cadê aquela que você levou em casa lá no fim do mundo quinhentas vezes depois das festas? Cadê todo mundo quando você precisa de uma coisa muito simples?
Não sei onde estão essas pessoas e agora, de verdade, prefiro não saber. Prefiro que todas elas se fodam, porque agora vou ser uma pessoa pior. Cansei de fazer o bem e me dar mal. Cansei de esperar atitudes das pessoas e mofar esperando. Cansei desse povo sobrando inútil na minha vida. Cansei de ser a boazinha. A que sempre se fode. Cansei dessa hipocrisia de fazer o bem de graça. Cansei de ser usada!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dialogo

A: Você é meu companheiro.
B: Hein?
A: Você é meu companheiro, eu disse
B: O quê?
A: Eu disse que você é meu companheiro.
B: O que é que você quer dizer com isso?
A: Eu quero dizer que você é meu companheiro, Só isso.
B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.
A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.
B: Não é disso que estou falando.
A: Você está falando do quê, então?
B: Estou falando disso que você falou agora.
A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro.
B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro.
A: Você também sente?
B: O quê?
A: Que você é meu companheiro?
B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei.
A: Atrás do companheiro?
B: È.
A: Não.
B: Você não sente?
A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você, não?
B: Não. Não é isso. Não é assim.
A: Você não quer que seja isso assim?
B: Não é que eu não queira: é que não é.
A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro.
B: Agora não?
A: Agora sim. Você quer?
B: O quê?
A: Ser meu companheiro.
B: Ser teu companheiro?
A: È.
B: Companheiro?
A: Sim.
B: Eu não sei. Por favor não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, voc~e não vê?
A: eu vejo. Eu quero.
B: O quê?
A: Que você seja meu companheiro.
B: Hein?
A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.
B: O quê?
A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.
B: Você disse?
A: Eu disse?
B: Não, não foi assim: eu disse.
A: O quê?
B: Você é meu companheiro.
A: Hein?


Caio Fernando Abreu.