"Fui recebendo em mim um desejo que ele não fosse
mais embora, mas ficasse, sobre as horas, e assim como estava sendo, sem
parolagem miúda, sem brincadeira..."
Sua ausência me dói. Meros cinco minutinhos longe são
suficientes pra eu deslembrar como as coisas existiam – e tinham algum tipo de
graça – antes de você existir nelas e viver em mim. Você é de uma luz imensa,
que clareia o quarto, a rua, as esquinas, curvas, lojas, igrejas, filas de
banco. Já eu, sou necessidade pura. Careço das frases longas, interrompidas
hora ou outra por uma risada curta. Preciso da pele branca, lisa e dos olhos
famintos que só você tem. Das palavras doces que em poucos minutos, viram
lágrimas salgadas. Da alegria livre, genuína, branda. Da sua companhia rara,
dispendiosa, ou melhor, impagável. E, claro, das suas asas longas que insistem
em me levar pra passear por destinos improváveis. Por ruas claras. Por sonhos
concretos e pueris. Por isso corrijo meu bem: meros segundos longe de você são
suficientes pra eu não me lembrar que o amor me bebeu e restou essa sede
imensa. Que só é saciada quando você sorri, chora, fala, ri, me olha, vive e,
logo em seguida, segura minha mão.